Sumário
As ciências sociais: os pressupostos teóricos dos investigadores. O subjectivismo e o objectivismo. Uma síntese das aulas do 2º semestre.
A investigação científica não está imune aos pressupostos teóricos dos investigadores. Como dizem Burrel e Morgan (1979), apenas quando se descobrem os pressupostos teóricos básicos, que se encontram subjacentes aos trabalhos, é possível encontrar afinidades e estabelecer as linhas divisórias das diversas abordagens.
Seguindo Burrel e Morgan, há que conceber as ciências sociais, na forma como encaram a natureza da ciência social, em termos de quatro conjuntos de pressupostos.
Estes relacionam-se com:
1 - a ontologia,
2 - a epistemologia,
3 -a natureza humana
4 - e a metodologia.
Existem dois pólos ou extremos em que os autores situam num eixo que vai de um lado a outro: o pólo objectista e o subjectivista.
Principais Perspectivas Teóricas na Abordagem das Ciências Sociais
Subjectiva |
Perspectiva |
Objectiva |
Nominalismo: construtivismo A posição nominalista desenvolve-se na presunção de que não existe nenhuma estrutura real. Os nomes usados não passam de criações artificiais, cuja utilidade é meramente instrumental e destinada a servir de meio à negociação com o mundo exterior. |
Perspectiva ontológica, ou do ser |
O realismo, ao contrário, postula a existência de estruturas exteriores ao indivíduo e à sua consciência, como entidades empíricas e tangíveis. Para os seus seguidores, o mundo social existe independentemente da apreciação individual do mesmo. O indivíduo é visto como tendo nascido dentro dele, mas o mundo social não é algo criado, antes existe fora do próprio indivíduo. |
ANTIPOSITIVISTAS Estes autores não são positivistas. Seguem a dúvida de David Hume pondo em causa a possibilidade de construir essas leis, recusam as relações lineares entre causa e efeito. |
Perspectiva epistemológica salienta a oposição entre o antipositivismo e o positivismo. |
POSITIVISTAS Uns defendem a capacidade de explicar e de predizer o que acontece no mundo social, através da busca das regularidades subjacentes, leis sociais e relações lineares de causa e efeito entre os seus elementos constitutivos. |
No outro extremo, podemos identificar a posição voluntariosa para quem o homem tem um alto grau de autonomia e liberdade. |
Perspectiva sobre a natureza humana. O voluntarismo/determinismo, procura-se evidenciar o debate sobre a natureza humana. Que modelo de homem é apresentado na teoria social científica? |
Num extremo, podemos encontrar a visão de que o homem na sua acção é determinado pela envolvente. |
A configuração ideográfica acentua a compreensão do mundo social através da análise do subjectivo que cada um gera (getting inside), metendo-se na situação e envolvendo-se no seu quotidiano. Defende um certo individualismo metodológico (expressão criada por Weber) |
Metodologia |
A nomotética, pelo contrário, enfatiza o desenvolvimento da investigação dentro de protocolos estabelecidos e técnicas específicas. Situa-se no âmbito do método das ciências em geral, baseado no teste da hipótese. |
A tradição antipositivista, marcada pelo idealismo alemão, é oposta a esta. É marcada pela premissa de que a realidade é a do espírito ou da ideia, mais do que dados extraídos da percepção humana. É essencialmente nominalista na sua abordagem da realidade social e humana. Em contraste com a posição das ciências naturais, esta tradição reforça a natureza, essencialmente subjectiva, dos problemas sociais e humanos, negando a utilidade dos estudos que se deixam guiar por métodos e técnicas de pesquisa provenientes das ciências naturais. É antipositivista na abordagem epistemológica, voluntarista na forma como olha a natureza humana, e ideográfica na metodologia que adopta no estudo da realidade social e humana. |
Duas tradições Estas posições, extremas, reflectem as duas maiores tradições que têm dominado as ciências sociais. |
O positivismo reflecte essencialmente a tentativa de aplicar modelos e métodos das ciências naturais no estudo dos problemas sociais e humanos. Trata o mundo social e humano como se do mundo natural se tratasse, adoptando ontologicamente uma posição realista . Esta posição é apoiada por uma epistemologia positivista, por uma visão determinista da natureza humana e pelo uso de uma metodologia claramente nomotética. O positivismo funda-se em duas grandes teses. A primeira encara a História em abstracto, e vê aí uma linha de progresso do desenvolvimento humano. A segunda baseia-se na ideia de que existe uma hierarquia das ciências, onde a Matemática estaria na base da escala e a Sociologia no topo. |
Preocupada com os procesos que criam a ordem social e acoesão. Microperspectiva Preocupada com o problema do controlo humano sobre as instituições sociais. Ênfase nos significados sociais e na variedade de interpretações. Sublinha a realidade social subjectiva. Ênfase nos processos pelos quais as pessoas activamente constroem e reconstroem a ordem social à volta delas. Exemplos: -A sociologia de Weber. -O interaccionismo simbólico (Howard S. Becker: Outsiders - os fumadores de marijuana). -A sociologia fenomenológica (Schütz); a etnometodologia (Garfinkel: os experimentos de ruptura). - a nova sociologia da ciência e da tecnologia (construtivismo social, teoria do actor-rede de Bruno Latour) -Algumas variedades da sociologia marxista - o neo-marxismo da Escola de Frankfurt (WALTER BENJAMIM, ADORNO, HORKHEIMER, HABERMAS). A visão de um construtivismo contextualizado de Giddens aproxima-se deste pólo. |
Abordagem da Realidade Social |
Ocupa-se dos sistemas e estruturas sociais. Macroperspectiva. Ocupa-se da acção e integração social. Ênfase nos sistemas globais de valores da sociedade. Sublinha a realidade social objectiva.
Ênfase na ordem social como algo que é dado ou herdado do passado. Exemplos: -A sociologia de Durkheim (VER O ESTUDO SOBRE O SUICÍDIO). -A sociologia estrutural-funcionalista de Parsons. - a análise funcional (Merton e Paul Lazarsfeld na metodologia - VER O ESTUDO SOBRE O VOTO NOS EUA) -Algumas variedades da sociologia marxista
- A visão do estruturalismo estrutural de Bourdieu aproxima-se mais deste polo. |
NOTA IMPORTANTE
Este quadro não deve ser lido dicotómicamente. Muitos cientistas sociais têm desenvolvido a sua investigação seguindo uma destas tradições, posicionando-se nos extremos, ou localizando-se ao longo dos pontos intermédios deste contínuo.
Noutros casos colocam em causa estas divisões defendendo uma tese aparentemente paradoxal: um construtivismo realista (caracteriza, segundo alguns actores, a teoria do actor-rede de Bruno Latour - ver aula teórica de 2 de Maio de 2006).
Este esquema baseia-se em:
G. Burrel e G. Morgan, Sociological paradigms and organizational analysis, Londres, Heineman, 1979.
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* The Epistemology of Qualitative Research - Howard S. Becker
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