Becker (1985) no capítulo 9 da obra Outsiders, relativo ao estudo do desvio, acentua a necessidade de dedicar bastante tempo a investigações deste tipo.
“Poucos são aqueles que descrevem em detalhe as actividades quotidianas do jovem delinquente, o que ele pensa de si mesmo, das suas actividades e da sociedade. Assim, quando construímos teorias sobre a delinquência juvenil, somos conduzidos a inferir o tipo de vida do delinquente a partir de estudos parcelares e de peças jornalísticas, sem poder basear as nossas teorias sobre um conhecimento adequado dos fenómenos que nos propomos explicar.” (Becker, 1985: 189-190)
“Não é fácil estudar os desviantes, uma vez que estes são tidos como estrangeiros pelo resto da sociedade, e eles próprios têm tendência a considerar que o resto da sociedade lhes é estrangeira, o investigador que pretende descobrir os fenómenos do desvio deve ultrapassar difíceis obstáculos antes de ser admitido a ver o que pretende ver.” (H. S. Becker, 1985:191)
“... o processo necessário para ganhar a confiança daqueles que estudamos pode ser bastante custoso em tempo, e meses podem passar frustrados na procura de uma entrada. Este tipo de investigação necessita assim de mais tempo que as investigações comparáveis conduzidas em instituições respeitáveis.” (H. S. Becker, 1985:194)
“... os fenómenos morais que estão implicados no estudo do desvio são mais difíceis de identificar. Esta questão constitui um aspecto de um problema mais geral, aquele relativo a qual o ponto de vista que o investigador deve adoptar quando frente-a-frente com o seu sujeito de estudo, qual o julgamento que ele traz consigo sobre algo que é convencionalmente tido como negativo e as simpatias que ele terá relativamente a esta ou aquela categoria. Estes problemas põem-se, naturalmente, no estudo de qualquer fenómeno.” (H. S. Becker, 1985: 194)
«Se queremos realmente estudar nos seus ambientes naturais (...) os desviantes que violam as leis, devemos tomar a decisão moral de também nós violarmos leis. Não é necessário agir por «observação participante» e cometermos nós também o tipo de acto desviante estudado, mas é necessário ser testemunha de tais actos ou deter conhecimento destes e não os participar..» (Ned Polsky citado por H. S. Becker, 1985: p.199).
in Howard S. Becker, Outsiders. Etudes de sociologie de la deviance, Paris, Editions A. M. Métailié, 1985.
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Ver um trabalho em sociologia sobre o grupo dos "góticos" em:
José Carlos Bento de Carvalho e Nuno Miguel Nunes Dionísio,
Goth – O Ultra-Romantismo Juvenil em Lisboa: um estilo de vida alternativo, Lisboa, Universidade Autónoma de Lisboa, Departamento de Ciências Humanas, Curso de Sociologia , 1999.