Metodologia das Ciências Sociais 1º ano de Sociologia
Apontamentos da aula teórica nº 2 de 11 de Outubro de 2005
Tema: a contingência da linguagem e o problema do conhecimento científico
Richard Rorty, Contingência, Ironia e Solidariedade, Lisboa, Ed. Presença, 1994, pp. 23-46 (Cap. 1 - A contingência da linguagem)
* História --- duas tendências:
* Artistas/políticos utópicos - os fins estão na arte e na política utópica
* Cientistas/filósofos - os fins estão na ciência e na moral
"Há cerca de duzentos anos. A ideia de que a verdade era feita e não descoberta começou a dominar a imaginação europeia. A Revolução Francesa mostrara que todo o vocabulário das relações sociais e todo o espectro das instituições sociais podiam ser substituídos quase de um dia para outro. Esse precedente fez da política utópica mais uma regra do que uma excepção entre os intelectuais. (
)
De então para cá essas duas tendências reuniram as suas forçass e alcançaram uma hegemonia cultural. Para a maior parte dos intelectuais contemporâneos, as questões dos fins, por oposição aos meios - questões acerca do modo de dar sentido à vida de cada um ou à comunidade de cada um - são questões para a arte ou para a política, ou para ambas, e não para a religião, para a filosofia ou para a cdiência. Tal evolução levou a uma cisão na filosofia. Alguns filósofos mantiveram-se fiéis ao Iluminismo e continuaram a identificar-se com a causa da ciência. Vêem o antigo confronto entre ciência e religião, razão e irracionalidade como algo que se mantém, tendo agora assumido a forma de um confronto entre a razão e todas as forças que, dentro da cultura, pensam que a verdade é [23-24] feita e não descoberta. Esses filósofos consideram a ciência como a actividade paradigmática do homem e insistem em que as ciências naturais descobrem a verdade em vez de a fazerem. Consideram que a expressão "fazer a verdade" é uma expressão meramente metafórica e totalmente enganadora. Pensam da política e da arte que são esferas em que a noçao de "verdade" se encontra deslocada. Outros filósofos, verificando que o mundo tal como é descrito pelas ciências físicas não proporciona qualquer lição moral e não oferece qualquer conforto espiritual, concluíram que a ciência não é mais do que ancilar da tecnologia. Esses filósofos alinharam-se do lado dos políticos utópicos e dos artistas inovadores" (pp. 23-24).
Segundo Rorty, os filósofos encontram-se divididos entre:
* Os que mantêm o antigo confronto entre ciência e religião, razão e irracionalidade. Estes filósofos acreditam que as ciências naturais descobrem a verdade, não fazem a verdade. Contrapõem o facto científico sólido ao subjectivo; * Iluminismo - causa da ciência - a verdade é descoberta - factos
* Outros filósofos vendo que o mundo descrito pelas ciências físicas não nos dão qualquer lição de moral e não nos oferecem matéria de reflexão espiritual, aliam-se aos políticos utópicos. Estes filósofos encaram a ciência como mais uma actividade humana.Filósofos que concordam com os artistas e os políticos utópicos - A verdade é feita, é CONSTRUíDA.
"Enquanto o primeiro tipo de filósofo contrapõe o "facto científico sólido" ao "subjectivo" ou à "metáfora", o segundo tipo encara a ciência como mais uma actividade humana e não como o plano em que os seres humanos encontram uma realidade "sólida", não humana. Deste ponto de vista, os grandes cientistas inventam descrições do mundo que são úteis para fins de previsão e de controlo daquilo que acontece, tal como os poetas e os pensadores políticos inventam outras drescrições do mundo para outros fins. Não há, porém, uma acepção na qual qualquer uma dessas descrições seja uma representação correcta do modo como o mundo é em si próprio. Tais filósofos consideram que a própria ideia de tal representação carece de sentido" (p. 24).
Os grandes cientistas elaboram descrições do mundo para que os fenómenos possam ser previstos. Tal como os filósofos e os poetas elaboram questões sobre o espírito humano para outros fins.
* Hegel e Kant acreditavam numa ciência do seguinte modo:
Conhecimento cientifico = metade empírico + metade domínio da mente (a verdade não está diante de nós).
* Rorty acredita na conciliação entre racionalistas e empiristas da seguinte forma: espaço e tempo existem de facto, isto porque são criação do próprio homem. Portanto, se foram criados, à partida existem, nem que seja apenas nas concepções humanas.
* Distingue
a Tese de que o mundo está diante de nós (não é uma criação nossa; a maior parte das coisas que acontecem não são efeito dos estados mentais do homem)
da Tese de que a verdade não está diante de nós (é dizer que onde não há frases não há verdade)
* Conciliação: o mundo está diante de nós mas as descrições do mundo não estão. Só as descrições do mundo podem ser verdadeiras ou falsas.
* A ideia de que o mundo está diante de nós remete-nos para a herança de que o mundo foi criado por um ser com uma linguagem própria, diferente da nossa = a ideia dos factos autosubsistentes leva-nos à ideia de Deus.
* A descrição do mundo é feita por um jogo de linguagem. E existem vários jogos alternativos de linguagem.
* O mundo não fala, só nós é que falamos. A linguagem é ditada pelo homem e não pela natureza. Como o mundo não nos aponta de forma clara uma linguagem para o descrever, tem de ser o homem a adoptar essa linguagem, o que não quer dizer que exista aqui alguma arbitrariedade. O homem não adopta por vontade própria determinada linguagem, ele inconscientemente vai adoptando novos vocábulos mais apropriados e mais aperfeiçoados para definir o mundo. É fruto de uma evolução.
* Ideia central: A realidade é indiferente às descrições que dela fazemos. A verdade não é feita pelo homem mas os vocábulos que ele emprega, esses sim, são feitos por ele. As linguagens são feitas (construídas) e não descobertas. Por essa razão, podemos usar jogos de linguagem para fazer parecer que uma coisa é boa ou má, útil ou inútil, bastando apenas redefinir o objecto.
* Devemos concentrar-nos mais em entender o significado empírico dos vocábulos do que estudar os vários significados terminológicos e o enredo que envolve as diferentes considerações acerca da terminologia.
* Se o mundo não fosse possível de conhecer porque razão estamos constantemente a persegui-lo e a tentar conhece-lo, preve-lo e domina-lo.
Esta concepção de que o mundo real não nos é dado a conhecer só cria discussões infrutíferas e vãs.
* A contingência da linguagem leva a um progresso intelectual e moral, não leva a uma compreensão cada vez maior da realidade em que o homem vive. Os seres humanos fazem verdades ao fazer linguagens.
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