Quarta-feira, 12 de Outubro de 2005

Aula teórica nº 1 (4 de Outubro de 2005) e nº 2 (11 de Outubro de 2005)

 

Metodologia das Ciências Sociais– 1º ano de Sociologia


Apontamentos da aula teórica nº 2 de 11 de Outubro de 2005


 


Tema: a contingência da linguagem e o problema do conhecimento científico


 


Richard Rorty, Contingência, Ironia e Solidariedade, Lisboa, Ed. Presença, 1994, pp. 23-46 (Cap. 1 - A contingência da linguagem)


 


*        História --- duas tendências:


 


* Artistas/políticos utópicos - os fins estão na arte e na política utópica


 


* Cientistas/filósofos - os fins estão na ciência e na moral


 


 


 


 


"Há cerca de duzentos anos. A ideia de que a verdade era feita e não descoberta começou a dominar a imaginação europeia. A Revolução Francesa mostrara que todo o vocabulário das relações sociais e todo o espectro das instituições sociais podiam ser substituídos quase de um dia para outro. Esse precedente fez da política utópica mais uma regra do que uma excepção entre os intelectuais. (…)


 


 


 


 


 


De então para cá essas duas tendências reuniram as suas forçass e alcançaram uma hegemonia cultural. Para a maior parte dos intelectuais contemporâneos, as questões dos fins, por oposição aos meios - questões acerca do modo de dar sentido à vida de cada um ou à comunidade de cada um - são questões para a arte ou para a política, ou para ambas, e não para a religião, para a filosofia ou para a cdiência. Tal evolução levou a uma cisão na filosofia. Alguns filósofos mantiveram-se fiéis ao Iluminismo e continuaram a identificar-se com a causa da ciência. Vêem o antigo confronto entre ciência e religião, razão e irracionalidade como algo que se mantém, tendo agora assumido a forma de um confronto entre a razão e todas as forças que, dentro da cultura, pensam que a verdade é [23-24] feita e não descoberta. Esses filósofos consideram a ciência como a actividade paradigmática do homem e insistem em que as ciências naturais descobrem a verdade em vez de a fazerem. Consideram que a expressão "fazer a verdade" é uma expressão meramente metafórica e totalmente enganadora. Pensam da política e da arte que são esferas em que a noçao de "verdade" se encontra deslocada. Outros filósofos, verificando que o mundo tal como é descrito pelas ciências físicas não proporciona qualquer lição moral e não oferece qualquer conforto espiritual, concluíram que a ciência não é mais do que ancilar da tecnologia. Esses filósofos alinharam-se do lado dos políticos utópicos e dos artistas inovadores" (pp. 23-24).


 


Segundo Rorty, os filósofos encontram-se divididos entre:


 


* Os que mantêm o antigo confronto entre ciência e religião, razão e irracionalidade. Estes filósofos acreditam que as ciências naturais descobrem a verdade, não fazem a verdade.  Contrapõem o facto científico sólido ao subjectivo; * Iluminismo - causa da ciência - “a verdade é descoberta” - factos


 


    * Outros filósofos vendo que o mundo descrito pelas ciências físicas não nos dão qualquer lição de moral e não nos oferecem matéria de reflexão espiritual, aliam-se aos políticos utópicos. Estes filósofos encaram a ciência como mais  uma actividade humana.Filósofos que concordam com os artistas e os políticos utópicos - “A verdade é feita”, é CONSTRUíDA.


"Enquanto o primeiro tipo de filósofo contrapõe o "facto científico sólido" ao "subjectivo" ou à "metáfora", o segundo tipo encara a ciência como mais uma actividade humana e não como o plano em que os seres humanos encontram uma realidade "sólida", não humana. Deste ponto de vista, os grandes cientistas inventam descrições do mundo que são úteis para fins de previsão e de controlo daquilo que acontece, tal como os poetas e os pensadores políticos inventam outras drescrições do mundo para outros fins. Não há, porém, uma acepção na qual qualquer uma dessas descrições seja uma representação correcta do modo como o mundo é em si próprio. Tais filósofos consideram que a própria ideia de tal representação carece de sentido" (p. 24).


 


 


Os grandes cientistas elaboram descrições do mundo para que os fenómenos possam ser previstos. Tal como os filósofos e os poetas elaboram questões sobre o espírito humano para outros fins.


 


*   Hegel e Kant acreditavam numa ciência do seguinte modo: 


Conhecimento  cientifico  =  metade empírico  +  metade domínio da mente  (a verdade não está diante de nós).


 


 


 


*   Rorty acredita na conciliação entre racionalistas e empiristas da seguinte forma: espaço e tempo existem de facto, isto porque são criação do próprio homem. Portanto, se foram criados, à partida existem, nem que seja apenas nas concepções humanas.


 


*   Distingue


a Tese de que o mundo está diante de nós  (não é uma criação nossa; a maior parte das coisas que acontecem não são efeito dos estados mentais do homem)


da Tese de que a verdade não está diante de nós (é dizer que onde não há frases não há verdade)


 


*   Conciliação: o mundo está diante de nós mas as descrições do mundo não estão. Só as descrições do mundo podem ser verdadeiras ou falsas.


*   A ideia de que o mundo está diante de nós remete-nos para a herança de que o mundo foi criado por um ser com uma linguagem própria, diferente da nossa  =   a ideia dos factos autosubsistentes leva-nos à ideia de Deus.


 


*   A descrição do mundo é feita por um jogo de linguagem. E existem vários jogos alternativos de linguagem.


 


*   O mundo não fala, só nós é que falamos. A linguagem é ditada pelo homem e não pela natureza. Como o mundo não nos aponta de forma clara uma linguagem para o descrever, tem de ser o homem a adoptar essa linguagem, o que não quer dizer que exista aqui alguma arbitrariedade. O homem não adopta por vontade própria determinada linguagem, ele inconscientemente vai adoptando novos vocábulos mais apropriados e mais aperfeiçoados para definir o mundo. É fruto de uma evolução.


 


*   Ideia central: A realidade é indiferente às descrições que dela fazemos. A verdade não é feita pelo homem mas os vocábulos que ele emprega, esses sim, são feitos por ele. As linguagens são feitas (construídas) e não descobertas. Por essa razão, podemos usar jogos de linguagem para fazer parecer que uma coisa é boa ou má, útil ou inútil, bastando apenas redefinir o objecto.


*   Devemos concentrar-nos mais em entender o significado empírico dos vocábulos do que estudar os vários significados terminológicos e o enredo que envolve as diferentes considerações acerca da terminologia.


*   Se o mundo não fosse possível de conhecer porque razão estamos constantemente a persegui-lo  e a tentar conhece-lo, preve-lo e domina-lo.


Esta concepção de que o mundo real não nos é dado a conhecer só cria discussões infrutíferas e vãs.


*   A contingência da linguagem leva a um progresso intelectual e moral, não leva a uma compreensão cada vez maior da realidade em que o homem vive.  Os seres humanos fazem verdades ao fazer linguagens.



 


 

Publicado por jpneves às 00:28
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